Skip to main content

Johann Sebastian Bach ainda hoje é um dos mais importantes compositores de música erudita que já tiveram os pés no Planeta Terra. Para além de criar diversas técnicas importantes para a prática do piano e ser o estilo Barroco em pessoa, é amplamente tocado por muitos pianistas, quer profissionalmente, quer para aprender.
Este compositor compôs várias obras de renome: as cantatas, as invenções a 2, 3 e 4 vozes, Jesus Alegria dos Homens, Coração e Boca e Ações de Vida, Oferenda Musical, e (rufar de tambores) o Cravo Bem Temperado (The Well-Tempered Clavier em Inglês e, originalmente, Das wohltemperierte Klavier – em alemão).

Esta é uma coleção de peças para cravo solo (hoje tocadas também em piano) dividida em dois livros. Bach inicialmente escreveu prelúdios e fugas tendo por base os 24 tons (12 maiores mais 12 menores), surgidos em 1722 “para o proveito e uso dos jovens músicos desejosos de aprender e, especialmente, para o entretenimento daqueles já experientes com esse estudo”. Mais tarde, Bach compilou um segundo livro de prelúdios e fugas (seguindo o mesmo esquema de composição tonal do primeiro) aparecido em 1744, desta feita, intitulando-o apenas “Vinte e quatro Prelúdios e Fugas”. O Cravo Bem Temperado é uma das obras musicais mais importantes da música ocidental, de grande envergadura, profundidade, diversidade musical, estética e psicológica e de grande complexidade que demonstrou tanto tecnicamente como por meio da sua grandiosidade, o potencial musical dos temperamentos musicais circulares. Tais temperamentos permitiram infinitas modulações em tonalidades bastante diferentes, estabelecendo a base harmónica da música clássica de Bach em diante. Embora a obra de Bach não fosse a primeira composição pan-tonal (utilizando todas as tonalidades), de longe foi a mais influente. Beethoven (que fazia das modulações remotas o núcleo da sua música) foi fortemente influenciado por O Cravo Bem Temperado, desde a sua juventude – quando a interpretação em concertos públicos de peças dos dois Livros de Bach, contribuiu para a sua fama e reputação.

No entanto, a razão para estarmos a falar desta obra é outra. Durante uma boa parte do século XX se supôs que Bach desejava o temperamento igual, o qual tinha sido criado pelos teóricos e músicos pelo menos um século antes do seu nascimento. Entretanto a pesquisa continuou através de vários sistemas contemporâneos à carreira de músico. Forkel, primeiro biógrafo do compositor que recebeu informações dos filhos e alunos de Bach, relata que Bach afinava os seus próprios cravos e clavicórdios pois achava insatisfatória a afinação feita por outros. Ele mesmo tocava em todas as afinações e modulava para afinações distantes sem que ouvintes quase pudessem perceber. Marpurg e Kirnberger, outros conhecidos de Bach, ao longo de um debate intenso parecem ter concordado que Bach exigia que as terças maiores fossem mais vibrantes do que puras – o que, em todos os casos, é virtualmente um pré-requisito para que um temperamento seja bom em todas as afinações. No entanto, o mais interessante é este facto dos 24 tons.

Friedrich Wilhelm Marpurg
Johann Nikolaus Forkel
Johann Kirnberger

Apesar do que se mostra nos pianos atuais, sustenido e bemol não são o mesmo. Por exemplo, se esmiuçarmos muito a teoria, ré sustenido e mi bemol não são a mesma coisa. No entanto, a diferença é tão mínima que nós humanos não a conseguimos ouvir. E esta obra é o testemunho da afinação que hoje é usada: afinando sustenidos e bemóis na mesma tecla. Se conseguíssemos ouvir a diferença, o teclado do piano seria algo como isto:

E para nada, já que para nós seria a mesma coisa – e esta é a importância desta composição pan-tonal, é o exemplo perfeito da afinação hoje usada, sendo mais um dos grandes legados que Bach nos deixou. Sem este chamado sistema Tonal Temperado, torna-se inviável o desenvolvimento de grandes modulações nas peças musicais. Ao escrever O Cravo Bem Temperado, Bach demonstrou a viabilidade deste sistema e ainda as capacidades de criar obras com grande densidade harmónica de acordo com o mesmo.

Ficam as partituras em baixo e alguns links para ouvir estas peças.

Até à próxima!


Livro I


Livro II

0 0 Votos
Avaliação Artigo
Subscrever
Notificar de
1 Comentário
Mais Antigo
Mais Recente Mais Votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários
Maria Manuel Costa
Maria Manuel Costa
9 de Abril, 2021 19:40

Artigo bem redigido e ainda melhor documentado. Eu, uma leiga na matéria, gostei muito de ficar a compreender um pouco melhor os sustenidos e bemóis.
Fico à espera de mais curiosidades intrigantes!

1
0
Gostaria da sua opinião. Por favor comente.x