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Maria Anna Walburga Ignatia Mozart… por este nome secalhar não surge mais nada sem ser Wolfgang Amadeus Mozart, certo?
Pois bem, Nannerl, como era carinhosamente chamada, era nada mais, nada menos do que a irmã do conhecidíssimo Mozart.
Maria Anna e Wolfgang foram os dois filhos de Leopold Mozart e Anna Maria Pertl Mozart que sobreviveram. Quando adulta, foi conhecida por Marianne.
Nannerl iniciou os seus estudos de teclado com o seu pai, aos sete anos de idade, quando demonstrou ser uma criança prodígio. Leopold levava-a com o seu irmão em digressões a cidades como Viena e Paris, explorando os seus talentos. Quando Wolfgang mal andava, Maria Anna era o seu ídolo. No livro Mozart: a Life, de Manyard Solomon, pode ler-se: “…aos três anos, Wolfgang inspirou-se em música observando o seu pai a dar aulas a Marianne. Ele queria ser como ela.” As duas crianças eram muito chegadas uma à outra, e inventaram uma linguagem secreta e um “reino ao contrário” em que eles eram rei e rainha. As primeiras cartas de Wolfgang a Marianne são muito carinhosas e incluem alguns vocábulos da linguagem secreta que eles usavam nas suas brincadeiras de infância.
Nos primeiros concertos, ela às vezes ganhava mais reconhecimento do que o irmão, e era conhecida como uma excelente tocadora de cravo e pianista.
Mas é aqui que, infelizmente, os maus costumes sociais da época entram: devido à opinião dos pais, ficou claro que seria impossível para Maria Anna seguir carreira. Depois de 1769, não foi mais permitido que ela atuasse ao lado do seu irmão, visto que já tinha alcançado idade para se casar. Enquanto Wolfgang viajava pela Itália com Leopold alcançando grandes triunfos durante os anos da década de 1770, Marianne ficava em casa com a sua mãe, em Salzburgo. Marianne ficou em casa também com o seu pai quando Wolfgang visitou Paris e outras cidades (1777-1779) junto da sua mãe.

Salzburgo, que se pode traduzir para Fortaleza do Sal

Opositoriamente ao seu irmão que desobedecia às ordens e desejos do pai (nas escolhas profissionais e no casamento), Marianne permaneceu totalmente submissa às ordens dele. Ela apaixonou-se por Franz d’Ippold, que era um capitão e tutor, mas foi forçada pelo seu pai a recusar a proposta de casamento de d’Ippold. Wolfgang tentou, em vão, fazer com que ela irmã aceitasse, mas sem sucesso. Por fim, Marianne casou-se com um rico magistrado, Johann Baptist Franz von Berchtold zu Sonnenburg, em 23 de Agosto de 1783, e foram morar em Sankt Gilgen, uma vila na Áustria, a uns 25 km de distância ao leste da casa dos Mozarts, em Salzburgo. Este já era duas vezes viúvo e tinha cinco filhos dos seus dois casamentos anteriores. Além de ajudar a cuidar dos filhos de Sonnenburg, Marianne teve com ele três filhos: Leopold Alois Pantaleon (1785-1840), Jeanette (1789-1805) e Maria Babette (1790-1791).

 

Johann Berchtold zu Sonnenburg
Leopold Alois Pantaleon Berchtold zu Sonnenburg

Depois de este falecer, Maria Anna mudou-se de novo para Salzburgo com 6 crianças e finalmente começou a dar aulas como professora de música.
Wolgang Mozart escreveu diversas peças para sua irmã tocar, inclusive o Prelúdio e Fuga em Dó maior, K.394 (1782). Até 1785, ele enviava cópias dos seus concertos para ela, e chegou a enviar até ao concerto nº 21. Há evidências de que Marianne compôs música em cartas nas quais Wolfgang elogia estes trabalhos, mas nas diversas correspondências deixadas pelo seu pai não há nenhuma menção às suas composições, e nenhuma sobreviveu. No tópico da relação deles como adultos, as opiniões diferem. Maynard Solomon (autor do livro Mozart: A Life referido acima) disputa que mais tarde nas suas vidas, Wolfgang e Marianne foram cada um para um lado completamente diferente, acrescentando que depois da triste visita de Mozart a Salzburgo, em 1783, ele e Marianne nunca se visitaram novamente e nunca viram os filhos um do outro, além de que as suas correspondências diminuíram até 1788, quando se encerraram completamente.
Marianne viu, sim, um dos filhos de Wolfgang, Franz Xaver Mozart. Este tinha vindo de Lemberg para orquestrar uma performance do Requiem do seu pai, em lembrança a Georg Nikolaus von Nilssen, o segundo marido da mãe Constanze, que tinha falecido recentemente.
No entanto, segundo o Grove Dictionary of Music and Musicians, os dois irmãos permaneceram sempre próximos.
Nos últimos anos, a saúde de Marianne deteriorou-se muito e ela ficou cega em 1825. Durante uma visita de Mary Novello, em 1829, esta registou a impressão de que Marianne estava cega, exausta, frágil e quase sem fala. Marianne faleceu no dia 29 de Outubro de 1829, sendo então enterrada no cemitério da igreja de São Pedro, Salzburgo.


Se Mozart se tornou num dos compositores mais famosos da história da Humanidade e Maria Anna Mozart ainda era melhor que ele, é só imaginar a lenda que teria dado… a lenda que poderíamos ter se as tradições da época fossem diferentes… e ainda bem que o tempo em que vivemos é muito mais inclusivo, porque quem sabe que outras lendas podemos perder?
E é assim que termina a história de Maria Anna Mozart, o génio silenciado pela discriminação.

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