Depois do último artigo sobre o Avé Maria de Schubert, vale a pena falar também falar sobre o Avé Maria de Gounod, com outra história interessante.
Já foi aqui falado do Cravo Bem Temperado a obra de Johann Sebastian Bach que influenciou vastamente a música clássica e o sistema pan-tonal ainda usado hoje em dia – cujo artigo está disponível aqui.
O Prelúdio No. 1 em C maior, BWV 846, do Livro I de J.S. Bach, O Cravo Bem Temperado, foi escrito cerca de 137 anos antes da composição desta peça, e esta peça foi como que uma melodia de Gounod sobreposta sobre este mesmo. Embora publicado em versões instrumentais e equipado para vários textos durante a vida de Gounod, a alegação de que ele nunca a escreveu realmente parece ser verdade – o compositor francês improvisou a melodia que a voz normalmente faz por cima deste prelúdio e o seu sogro Pierre-Joseph-Guillaume Zimmermann transcreveu a improvisação, e em 1853 fez um arranjo para violino (ou violoncelo), com piano e harmónio. Neste mesmo ano, a peça apareceu com as palavras de Alphonse de Lamartine no poema Le livre de la vie (“O livro da vida”), e em 1859 foi publicado por Jacques Léopold Heugel em Latim. Hoje em dia tem a mesma letra que o Avé Maria de Schubert também tem hoje, apesar de esta não ser a original… veja a verdadeira origem deste outro Avé Maria aqui. A versão do prelúdio de Bach utilizado por Gounod tem a adição de um compasso (m.23), que pode ser encontrada no manuscrito de Christian Friedrich Gottlieb Schwencke, mas não nos outros manuscritos de Bach ou na obra impressa do académico Bischoff ou na versão da Urtext (G. Henle Verlag).
No entanto, quando esta versão do Avé Maria ficou tão popularizada, a forma como se tocou e toca apenas o prelúdio começou a mudar…
Antes de continuarmos, o melhor é primeiro ver este vídeo.
https://youtu.be/7VNIDsEqtmE
Isto soa bastante como o Avé Maria, certo? E como o prelúdio também, não?
No entanto, podemos ver a versão que tem apenas o prelúdio:
https://youtu.be/frxT2qB1POQ
Isto soa como o Avé Maria e como o prelúdio também.
No entanto, no andamento original do prelúdio a semínima corresponde a 112, o que faz com que a peça seja tocada muito mais rápido. Afinal, os prelúdios de Bach são normalmente tocados num andamento bastante rápido…
O andamento pedido na partitura seria mais ou menos assim:
https://youtu.be/FtyvEfB0gBE
Portanto, muito rápido.
Mas isto são questões mais pessoais, a que cada um compete a sua interpretação. É claro que ambas são bonitas, só para destacar as duas peças.
Mas voltando à história:
Ao lado do Ave Maria de Schubert e Offenbach, assim também como o de Cassini, a Ave Maria de Bach/Gounod ganhou grande reconhecimento em eventos relacionados com o catolicismo. Existem arranjos para vários instrumentos, até trombones! Também foi interpretada por vários nomes conhecidos da música clássica, como Andrea Bocelli, Luciano Pavarotti e ainda o último castrato (cantor cuja extensão vocal corresponde em pleno à das vozes femininas, seja de soprano, mezzo-soprano, ou contralto, que ocorre porque o cantor, quando criança, foi submetido à castração para preservar sua voz aguda), Alessandro Moreschi.
A partitura para esta peça fica já aqui, e é ainda mais bonita e interessante do que a história da peça em si. E, é claro, uma interpretação com voz também, do muito talentoso Andrea Bocelli.
https://youtu.be/Pvn9MTOK_f0
E assim acaba mais um artigo do Pianissimo, com a obra que demonstra que até peças mais técnicas podem ser transformadas em algo muito mais do tempo romântico – apenas é preciso imaginação e uma mão-cheia de talento.
Prezada Mariana,
Quanto mais leio seus textos, mais encantado fico. Não sou pianista, nada sei sobre partituras, mas sou apaixonado por música, por Ukulele e Harmonica de blues.
Siga escrevendo!
Abraços desde Brasil.
Fernando.
Muito obrigada pelo comentário ????
Fico muito contente que tenha gostado dos meus artigos!!
Abraços e muito muito obrigada!
Mariana