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A origem da palavra “orquestra” é grega: “orkestra” significava “lugar destinado à dança”.

No século V a.C., os espetáculos eram encenados em anfiteatros e “orquestra” era o espaço situado logo à frente da área principal do palco, ocupado pelo coro e pelas danças. Ficavam ali também os instrumentistas.

Este conceito de “orquestra” alterou muito ao longo dos tempos até chegar ao que é hoje. Só para termos 2 exemplos históricos, vejamos os seguintes exemplos, neste caso entre a época do Barroco, a época do Romântico e a atualidade:

Época do Barroco:

  • Uma pintura de uma orquestra da altura (não consegui encontrar nem o nome, nem o autor):

  • Antonio Vivaldi | Concerto No. 4 em Fá menor, op. 8, RV 297, “L’inverno” (Inverno) (interpretado por Chloe Chua no âmbito do Concurso Internacional Yehudi Menuhin para Jovens Violinistas):

Época do Romântico:

  • Concerto de angariação de fundos de Franz Liszt para as vítimas das enchentes do Rio Danúbio na cidade de Pest (Hungria), onde ele foi o maestro da orquestra Vigadó Concert Hall

  • Felix Mendelssohn | Concerto para Violino em Mi menor, op. 64, 1º Movimento (interpretado por Sumina Studer e pela orquestra da Academia de Música Franz Liszt no âmbito do Concurso Internacional Louis Spohr para Jovens Violinistas):

Atualidade:

  • John Williams conduz a Orquestra Filarmónica de Viena:

  • Concerto completo de algumas peças da banda sonora de John Williams:

A História:

A história da orquestra está ligada à história da música instrumental. A prática de música em instrumentos musicais é antiga, mas foi minoritária em relação à música vocal até ao século XVI. Na maioria das vezes, inclusive, os instrumentos musicais eram usados como apoio ou acompanhamento às vozes.

Foi no século XVI, durante o Renascimento, que a música instrumental começou a ser praticada de forma autónoma – ou seja, foi com a música renascentista que os instrumentos musicais receberam a ideia de merecerem ser ouvidos independentemente da música vocal. Inicialmente isto ocorreu com transcrições de música vocal ou danças estilizadas, e os primeiros instrumentos solistas foram o órgão e o alaúde.

A ideia de formar grupos instrumentais também já é muito antiga, mas durante o período medieval estes grupos não tinham uma estrutura definida. É comum que as partituras desta época sejam indicadas apenas para vozes, mas as partes vocais podiam ser reforçadas ou mesmo substituídas por instrumentos musicais. É provável que o Hoquetus David, obra musical do século XIV, seja a primeira composição instrumental. Não há indicação de instrumentos, mas os estudiosos têm esta suspeita porque também não foi encontrado texto para o caso de ser música vocal.

As festas romanas no Coliseu já usavam grupos de cornetas e outros instrumentos de grande volume. Acredita-se que por causa desta ligação com festas pagãs e com espetáculos que envolviam o martírio de cristãos é que a tradição cristã proibiu desde cedo o uso de instrumentos musicais na música litúrgica. As cortes feudais também usaram com frequência os instrumentos mais estridentes para cerimónias de coroação e festas em lugares abertos. Era comum chamar a estes grupos instrumentais música de estábulo.

Mas o surgimento da orquestra está ligado a uma autonomia e uma padronização dos grupos instrumentais, seguindo sempre uma tendência de desenvolvimento da cultura urbana e burguesa. Neste sentido, os primeiros grupos a serem classificados como orquestras são aqueles determinados pelo veneziano Giovani Gabrielli (1557-1612) para o acompanhamento de suas ’’Sinfonias Sacras’’ compostas por volta de 1600.

Quase simultaneamente, em Florença, Claudio Monteverdi (1567-1643) também define uma orquestra para o acompanhamento da sua ópera L’Orfeo, composta em 1607. Estas orquestras primitivas, surgidas no início do período barroco, foram os primeiros grupos instrumentais com instrumentos definidos, correspondendo às primeiras tentativas feitas por compositores em obter um grupo instrumental de timbre definido.

Foram reis e aristocratas como Luís XIII de França e Ferdinando I de’ Médici que tornaram isto possível. Querendo demonstrar a sua riqueza, como naquela altura os músicos eram caros e eram no máximo grupos de 5, os consortes, pediram ajuda ao dito Monteverdi para criar um grupo de músicos. Ele, então, criou a ópera L’Orfeo, referida anteriormente.

Os instrumentos que escolheu foram:

  • 1 flauta
  • 1 regale
  • 1 clarino
  • 2 cravos
  • 2 cornetas
  • 2 órgãos de madeira
  • 3 trombetas
  • 4 trombones
  • 1 harpa
  • 2 violas
  • 2 guitarras
  • 2 contrabaixos
  • 10 violinos

A Orquestra Barroca

A orquestra barroca era largamente baseada nos instrumentos da família das violas. Na altura havia a família das violas, silenciosa, cheia de alma e com um toque de tristeza, e a família dos violinos, com um tom lindo, forte e poderoso que não tinham medo de mostrar.

Nos próprios instrumentos conseguimos notar diferenças, e apresentarei agora como exemplo 2 instrumentos na sua versão barroca: o violino e o violoncelo.

O Violino:

Para começar, há uma grande diferença entre os arcos. Em baixo podemos observar um arco barroco e um arco atual. O arco barroco tem uma ponta muito mais afiada do que o arco atual.


Para além disso, os violinos barrocos não têm nem mentonière nem almofada.

Em baixo fica um vídeo de uma interpretação da Sonata nº 1 em Sol Menor e da Partita nº 1 em Si Menor do Bach por Rachel Podger, violinista especializada no período barroco:

(Poderá reparar também que a afinação está meio tom abaixo devido à afinação em A440, penso eu ;))

O Violoncelo:

A diferença principal entre o violoncelo barroco e o violoncelo atual está na suite para violoncelo nº 6 de Bach – o violoncelo barroco tinha cinco cordas.

Ainda hoje se toca esta suíte com um violoncelo barroco, porque é quase impossível tocá-la com um violoncelo de apenas quatro cordas.

Fica em baixo a gravação desta peça interpretada por Beiliang Zhu, do canal do Instituto Internacional de Música Heifetz:

No final do período barroco os instrumentos da família das violas foram perdendo a preferência para os da família dos violinos. Assim, as orquestras do início do século XVIII já eram basicamente formadas por um naipe de instrumentos de cordas de arco, que continuam a ser a base das orquestras até hoje. Dois compositores podem ser destacados como pioneiros na escrita para cordas (termo com o qual designamos hoje um grupo instrumental formado por instrumentos de cordas de arco da família dos violinos, servindo também como sinónimo para um grupo instrumental denominado orquestra de cordas): Corelli (1623-1713) e Vivaldi (1678-1741).

Esta expansão da orquestra teve também a ver com os “vinte e quatro violinos do rei” de França, que, com o seu sucessor, evoluíram para este tipo de orquestra com a ajuda do compositor Jean-Baptiste Lully.

Lully quis também bater com a sua bengala no chão para manter o andamento durante concertos. Este compositor acabou por morrer em 1687 por bater com a bengala no próprio pé durante uma performance do seu “Te Deum”.

Outros compositores do período cujas obras instrumentais também já são largamente baseadas nas cordas da família dos violinos são J. S. Bach, Händel e Telemann.

A orquestra no período barroco não estava ainda fixada como formação instrumental, pois havia grande variação entre as formações empregadas por cada compositor, ou mesmo entre obras diferentes do mesmo compositor. Mas já se podem ver as tendências que se afirmariam plenamente no período clássico: substituição dos instrumentos da família das violas pelos da família dos violinos; abandono da grande variedade de instrumentos antigos de sopro; prática de escrever para as cordas a quatro partes, como se fossem as quatro vozes de um coro.

Não se pode deixar de mencionar outros dois importantes fatores: o fim do período barroco coincide também com uma grande mudança na construção dos instrumentos musicais, devido à novidade da afinação pelo sistema temperado, de que já falei em detalhe neste artigo.

Outro fator é que toda a música instrumental do período barroco foi fortemente marcada pela tradição do baixo contínuo, forma de escrita e de execução em que apenas a linha do baixo é definida na partitura, ficando toda a execução da harmonia a critério do músico que tocava os instrumentos harmónicos (cravo, alaúde e outros destas famílias). Esta tradição seria abandonada com o fim do período barroco.

Orquestra Clássica

Foi no período conhecido como classicismo que a orquestra tomou a sua formação atual, simultaneamente com o surgimento da ideia de música absoluta que se tornou critério positivo de valor estético.

Isto não teria ocorrido sem o desenvolvimento dos géneros da sinfonia, do quarteto de cordas, da sonata e do concerto.

Apesar dos termos sinfonia, sonata e concerto já existirem no período barroco, foi no fim do século XVIII que eles assumiram um significado mais preciso em termos de forma musical.

E foram estas formas clássicas que deram tanta importância à orquestra sinfônica.

Isto coincidiu com mudanças na construção dos instrumentos e na própria maneira de tocar dos conjuntos orquestrais. Estes ganharam em equilíbrio, afinação, precisão e, principalmente, variação de dinâmica e articulação. A orquestra pioneira desta transformação foi a orquestra de Mannheim, sob a direção do violinista e compositor Johann Stamitz (1717-1757) a partir de 1745.

Stamitz foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento da forma-sonata e da sinfonia, bem como o responsável por esta aparentemente perfeita orquestra. Devido ao seu padrão de excelência técnica e à novidade das obras musicais executadas em Mannheim, esta orquestra tornou-se modelo para os compositores mais proeminentes do período clássico: Mozart, Haydn e Beethoven.

São estes também conhecidos como os principais compositores de sinfonias, responsáveis pela definição moderna do género e, com ele, pela definição do que pode ser chamado de orquestra clássica: baseada nos instrumentos de cordas de arco e acrescidas de sopros de madeira dois a dois (duas flautas, dois oboés, dois clarinetes e 2 fagotes) e de vez em quando, trompas, trompetes, tímpanos e trombones.

Podemos notar nas sinfonias de Beethoven instrumentos especiais como os tímpanos, os trombones, os piccolos e os contrafagotes.

Foi no período conhecido como classicismo que a orquestra tomou a sua formação atual, simultaneamente com o surgimento da ideia de música absoluta que se tornou critério positivo de valor estético.

Isto não teria ocorrido sem o desenvolvimento dos géneros da sinfonia, do quarteto de cordas, da sonata e do concerto.

Apesar dos termos sinfonia, sonata e concerto já existirem no período barroco, foi no fim do século XVIII que eles assumiram um significado mais preciso em termos de forma musical.

E foram estas formas clássicas que deram tanta importância à orquestra sinfônica.

Isto coincidiu com mudanças na construção dos instrumentos e na própria maneira de tocar dos conjuntos orquestrais. Estes ganharam em equilíbrio, afinação, precisão e, principalmente, variação de dinâmica e articulação. A orquestra pioneira desta transformação foi a orquestra de Mannheim, sob a direção do violinista e compositor Johann Stamitz (1717-1757) a partir de 1745.

Stamitz foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento da forma-sonata e da sinfonia, bem como o responsável por esta aparentemente perfeita orquestra. Devido ao seu padrão de excelência técnica e à novidade das obras musicais executadas em Mannheim, esta orquestra tornou-se modelo para os compositores mais proeminentes do período clássico: Mozart, Haydn e Beethoven.

São estes também conhecidos como os principais compositores de sinfonias, responsáveis pela definição moderna do género e, com ele, pela definição do que pode ser chamado de orquestra clássica: baseada nos instrumentos de cordas de arco e acrescidas de sopros de madeira dois a dois (duas flautas, dois oboés, dois clarinetes e 2 fagotes) e de vez em quando, trompas, trompetes, tímpanos e trombones.

Podemos ainda notar nas sinfonias de Beethoven instrumentos especiais como os tímpanos, os trombones, os piccolos e os contrafagotes – passaremos assim à orquestra romântica.

A Orquestra Romântica

O papel de maestro começou com compositores do período Romântico como Felix Mendelssohn e Carl Maria von Weber.

Berlioz experimentou com novos instrumentos na orquestra, como a harpa e o trompete, ambos verificáveis na sua Sinfonia Fantástica (que já ouvi e recomendo).

Foi também nesta altura que a tuba obteve o seu papel como o baixo da orquestra.

Wagner inventou os seus próprios instrumentos, como uma mistura entre uma tuba e uma trompa, e à medida que o tempo ia passando cada vez havia mais metais e cordas (pobres madeiras).

Alguns compositores mais apegados à orquestra tradicional foram Schubert, Schumann e Bhrams, e os que mais investiram na evolução da orquestra foram Wagner, Liszt e Berlioz, seguidos por vários compositores no período Tardo-Romântico, como Mahler, Debussy, Ravel, Strauss e Rimsky-Korsakov.

São estes que desenvolvem combinações inusitadas entre os timbres dos instrumentos, técnicas arrojadas de execução dos próprios instrumentos bem como uma escrita rítmica e harmonicamente cada vez mais complexa. A obra seminal é a Sinfonia Fantástica de Berlioz, escrita em 1830, apenas 3 anos após a morte de Beethoven. Outra obra considerada muito avançada foi o Prelúdio da ópera Tristão e Isolda de Wagner, concluída em 1859 (e talvez venha por aí um artigo sobre o acorde de Tristão qualquer dia) – obra normalmente lembrada por beirar o atonalismo ainda em plena metade do século XIX, mas que também foi radical na escrita orquestral, bem como na diluição da rítmica antes fundada em compassos e pulsos. Outra obra sempre lembrada como paradigma orquestral é a 8ª Sinfonia (1907) de Mahler, apelidada de Sinfonia dos mil pela grande quantidade de músicos que emprega, entre orquestra e coro. O número de componentes necessários para a execução é variável, mas na estreia chegou efetivamente a mais de mil músicos! As sinfonias de Mahler, contudo, não costumavam usar o grande efetivo orquestral como recurso de volume ou potência sonora, mas, principalmente, para possibilitar grandes variedades de timbre – tendência que seria dominante no século XX. Por isso, muitas vezes, assistir à execução de uma sinfonia de Mahler é ver uma grande quantidade de músicos no palco, mas quase nunca estão todos a tocar juntos, sendo mais comum que uns poucos estejam a tocar e os demais estejam em pausa.

A Orquestra na Atualidade

Ao longo do século XX houve uma tendência a abandonar a orquestra como meio privilegiado de expressão musical dos compositores do ocidente, juntamente com o esgotamento criativo das formas musicais tradicionalmente associadas à orquestra, especialmente a ópera, a sinfonia e o concerto e o poema sinfônico. Cada vez que os compositores do século XX voltaram à escrita orquestral e às suas formas tradicionais foi, normalmente, com o intuito de negar a tradição, subvertendo-a.

A tendência ao abandono da grande orquestra e de suas formas tradicionais pode ser comparada a uma crise geral do período que ficou conhecido como Belle époque. Muitos analistas afirmam que foram os artistas os primeiros a sentirem e expressarem esta crise do mundo burguês, que só ficou realmente patente com o estouro da 1ª Guerra Mundial em 1914. De qualquer modo, esta crise dos valores burgueses fez-se sentir na escrita orquestral de várias formas. Ficou mais difícil juntar grandes orquestras, o que levou a uma tendência ao uso de pequenos grupos como na Sinfonia de Câmara ou no Pierrot Lunaire de Schoenberg.

Por estes motivos, pode-se afirmar o fim da orquestra no século XX, pelo menos como grupo estável utilizado pela maioria dos compositores. A partir da segunda metade deste século, tornou-se bastante comum a escrita de obras para uma orquestra formada unicamente por instrumentos de percussão.

Nesta altura surgiram então instrumentos eletrónicos como o théremin, e mais tarde surgiu a música eletrónica.

Assim, o papel da orquestra hoje em dia é mais interpretar banda sonora (como a de John Williams, por exemplo) ou música “antiga”, apesar de ainda haver uma mão-cheia de compositores não muito antigos: Philip Glass, Steve Reich, Leonard Bernstein, John Cage, Ludovico Einaudi, etc.


Philip Glass

Steve Reich

Leonard Bernstein

John Cage

Ludovico Einaudi
“O que me chegou como uma revelação foi o uso do ritmo para desenvolver uma estrutura na música.”
“Eu descobri que a música mais interessante foi escrita apenas alinhando as frases em uníssono e deixando-as desligar lentamente umas das outras.”
“Vida sem música é impensável. Vida sem música é académica. É por isso que o meu contacto com a música é totalmente um abraço.”
“O material da música é som e silêncio. Integrar estes dois é compor.”
“Não temos de compor sempre uma obra-prima, mas eu acho que o desafio da arte é sempre procurar algo diferente, procurar uma nova sensibilidade, uma nova perspetiva, uma nova visão.”

E, felizmente, também há muitas orquestras por aí a tocar música linda!!

“A minha alma é uma orquestra encondida; eu não sei que instrumentos, cordas, e harpas, e percussão, e tamboura eu soo e choco dentro de mim. Tudo o que eu ouço é a sinfonia.

Fernando Pessoa
Poeta

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