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Talvez uma das mudanças de estilo mais dramáticas na história da música erudita seja entre o clássico e o romantismo. O primeiro destes, representado principalmente por compositores como Mozart e Haydn, é de uma grande diferença do segundo, representado por compositores como Chopin e Liszt.

Antes de começarmos, vejamos uma frase de Chopin, que até explica bastante bem os diferentes conceitos:

“Bach é um astrónomo, que descobre as estrelas mais maravilhosas. Beethoven desafia o universo. Eu só tento expressar a alma e o coração do homem.”

Vamos a um bocadinho de história anterior antes passarmos para a transição em si:
O período clássico situa-se entre os períodos barroco e romântico. A música clássica tem uma textura mais clara do que a música barroca e é menos complexa. É principalmente homofónico, usando uma linha melódica clara sobre um acompanhamento de acordes subordinados, mas o contraponto não foi esquecido, especialmente mais tarde nesta época. Também faz uso do estilo galant que enfatiza a elegância leve em lugar da seriedade digna e grandiosidade impressionante do barroco. A variedade e o contraste dentro de uma peça tornaram-se mais pronunciados do que antes e a orquestra aumentou em tamanho, alcance e poder.

O cravo foi substituído como instrumento de teclado principal pelo nosso querido piano. Ao contrário do cravo, que dedilha as cordas com penas, os pianos batem nas cordas com martelos revestidos de couro quando as teclas são pressionadas, o que permite ao músico tocar mais alto ou mais suave (daí o nome original “fortepiano”; em contraste, a força com que um executante toca as teclas do cravo não altera o som. Os principais tipos de música instrumental foram sonata, trio, quarteto de cordas, quinteto, sinfonia (executado por uma orquestra) e o concerto solo, que apresentava um músico virtuoso tocando uma obra solo para violino, piano, flauta ou outro instrumento, acompanhado por uma orquestra.

Os compositores mais conhecidos deste período são Joseph Haydn, Wolfgang Amadeus Mozart, Ludwig van Beethoven e Franz Schubert.

O estilo procurava, principalmente, representar os valores de Inteligência, Razão, Objetividade, Impessoalidade, Equilíbrio, Disciplina, Clareza e Ordem.

E agora sim, vamos para a parte gira!

Estabelecer as origens da época romântica é tão complexo como estabelecer a sua herança, mas comecemos por afirmar que tudo começou com Beethoven, que já vimos na lista de compositores clássicos. Confuso? Oh bem. Falta-nos chegar a Schubert, mas já lá vamos.

A Eroica, Sinfonia nº 3 de Beethoven, obra de 1804, é por vezes considerada o marco do fim do período clássico e do começo da música romântica.

Alguns musicólogos situam o início do romantismo na música já no final do século XVIII, enquanto outros consideram que o período romântico tem início por volta de 1810, ano em que o termo “romântico”, antes aplicado apenas ao movimento literário com o mesmo nome, foi usado para qualificar Beethoven por E.T.A. Hoffmann (escritor romântico, compositor, desenhista e jurista alemão, sendo sobretudo conhecido como um dos maiores nomes da literatura fantástica mundial) nos seus ensaios sobre a Sinfonia nº 5. Já o final do romantismo na música é situado entre 1880 e 1910, a depender da perspetiva de quem estiver a explicar esta informação.

Neste estilo, pelas dissonâncias e maior leque de dinâmicas, contrastes, entre outros, podemos sentir os valores que estão na génese dele, como Sentimento, Sensibilidade, Subjetividade, Pessoalidade, Arrebatamento e Exaltação.

Estereotipicamente falando, o homem do Classicismo era equilibrado, saudável, moralista e disciplinado, e demonstrava grande prazer pela vida em sociedade. O homem do Romantismo era cheio de traumas, indisciplinado, instável, egocêntrico, pessimista e sem preocupações morais, o herói individualista e solitário. Enquanto no Classicismo havia uma busca constante pela certeza e pelas verdades, e por ter tudo claro, perfeito e ordenado, no Romantismo, as certezas não existiam, o que levava o homem à insatisfação e à angústia.

A mulher clássica era inatingível, como uma espécie de deusa, refletia o amor divino. A mulher romântica, apesar de não ter perdido totalmente a sua divindade, já que era vista como um ser angelical, possuía outra face, a face sedutora.

Podemos ver aqui um paralelo entre a música clássica e a mitologia grega.

Para tentar fazer uma espécie de comparação, veremos em seguida dois prelúdios. Do lado esquerdo, um vídeo com 4 prelúdios para teclado em Dó Maior de Mozart, e do lado direito um vídeo com o prelúdio em dó menor de Chopin.

Voltando a Eroica, Beethoven foi o compositor que esteve mesmo em cima do acontecimento na transição do Clássico para o Romântico. Tal como disse Paul Bekker “O resumo da sua obra é a liberdade, a liberdade política, a liberdade artística do indivíduo, a sua liberdade de escolha, de credo e a liberdade individual em todos os aspetos da vida”.

Em síntese, de acordo com o estudo, publicado em 1854, de Wilhelm von Lenz a sua vida artística pode dividir-se em três fases: a mudança para Viena, em 1792, quando alcança a fama de brilhantíssimo improvisador ao piano; por volta de 1794, data em que se inicia a redução da sua audição, facto que o leva a pensar em suicídio, e finalmente os últimos dez anos de sua vida, quando fica praticamente surdo, e passa a escrever obras de carácter mais abstrato.

Em 1801, Beethoven afirmou não estar satisfeito com o que compôs até à data, tornando pública a sua decisão de levar as suas composições por um “novo caminho”. Dois anos depois, em 1803, surge o grande fruto deste “novo caminho” escolhido pelo compositor: a Sinfonia nº 3 em Mi bemol Maior, apelidada de “Eroica”, cuja dedicatória a Napoleão Bonaparte foi retirada em 1804, devido à autoproclamação de Napoleão como Imperador da França. Esta dedicatória foi substituída por “à memoria de um grande homem”. A sinfonia Eroica era duas vezes mais longa do que qualquer outra escrita até então.

Em 1808, surge a Sinfonia nº 5 em Dó menor (cinco anos depois de Eroica… coincidência, hã?), cujo famoso tema de abertura foi considerado por muitos como uma evidência da sua loucura.

Em 1814, no entanto, Beethoven já era reconhecido como o maior compositor do século. Dez anos mais tarde (em 1824), surge a Sinfonia nº 9 em Ré Menor. Pela primeira vez na história da música, é inserido um coral numa sinfonia, inserida a voz humana como exaltação dionisíaca da fraternidade universal, com o apelo à aliança entre as artes irmãs: a poesia e a música.

A partir de Beethoven a música nunca mais foi a mesma. As suas peças eram criadas sem a preocupação em respeitar regras que, até então, eram seguidas, o que o fez produzir música como nunca antes se tinha ouvido. Considerado um poeta-músico, foi o primeiro romântico apaixonado pelo lirismo dramático e pela liberdade de expressão. Foi sempre condicionado pelo equilíbrio, pelo amor à natureza e pelos grandes ideais humanitários, mas ainda assim inaugura a tradição de compositor livre, que escreve música para si, sem estar vinculado a um príncipe ou a um nobre. Hoje em dia muitos críticos consideram-no o maior compositor do século XIX, a quem se deve a inauguração do período Romântico, enquanto outros o distinguem como um dos poucos homens que merecem a adjetivação de “génio”.

Beethoven marcou, portanto, o ínicio desta nova Era, e as suas duas facetas criaram dois estilos completamente diferentes, tão completamente diferentes que na altura o que não era considerado clássico era automaticamente considerado romântico.

Outra diferença que podemos ver é a diferença de títulos (já que nesta altura peças eram também inspiradas em obras literárias). Há dois tipos de títulos de música: absoluto e programático.

No absoluto temos, por exemplo, o tipo de obra (que obedecia a certas regras) e o número, como por exemplo Sonata KV 545 de Mozart, ou relacionado com o andamento, como por exemplo Cantabile e Presto para Flauta e Piano de Enescu, ou até de acordo com instrumentos, como o quarteto de cordas nº 4 de Schoenberg.

No programático, temos peças que remetem para o que é suposto sentir-se ao ouvi-las. Não só nos referimos a, por exemplo, Fantaisie-Impromptu de Chopin ou La Campanella de Liszt/Paganini mas também aos Noturnos de Chopin ou Bergamasques de Debussy, porque enquanto que, por exemplo, uma Ária é uma canção a solo no meio de uma ópera, um Noturno é suposto relembrar-nos da noite. Assim, a primeira remete para uma estrutura (absoluto) e a segunda para sentidos mais abstratos (programático).

Repare ainda que se dissermos Mazurka Brillante ou Sonata KV 331 nem precisamos de dizer o nome dos compositores para o mais óbvio a escolher entre os dois ser a segunda só por causa do KV (Catálogo de Köchel) – trata-se logo de Mozart, portanto.

Atenção, isto não significa que no Romantismo também não se usem estruturas como Sonatas ou Estudos. Em baixo podemos ver 2 exemplos de estruturas aplicadas no Romantismo com nomes absolutos – do lado esquerdo uma sonata de Liszt e do lado direito um Estudo de Chopin – e já que estamos nisto mais vale também dizer que Chopin revolucionou o estudo fazendo com que fosse algo que sim, exigisse técnica e prática, mas também fosse algo belo e que se apreciasse tocar, que melhorasse capacidades ao piano mas também desse ao músico o prazer de tocar coisas lindas. A minha própria peça preferida é um dos seus estudos, Winter Wind, que é normalmente considerado uma das peças mais difíceis do mundo para piano. Veja também aqui o artigo sobre a verdadeira peça mais difícil do mundo para piano, Symphonic Variations for Piano de Sorabji.

Voltando à linha do tempo, já não estamos bem na transição mas na maneira em como o estilo se desenvolveu!

Agora passamos então a Schubert, tal como prometido.

Franz Peter Schubert foi um compositor austríaco do fim do classicismo, com um estilo marcante, inovador e poético do romanticismo. Escreveu cerca de seiscentas peças musicais (o “lied” alemão), bem como óperas, sinfonias, incluindo a “Sinfonia Incompleta”, sonatas entre outros trabalhos. O contributo para colocar Schubert no panteão dos grandes compositores da história da música europeia foi dado por outros grandes compositores do século XIX que foram seus admiradores, como Felix Mendelssohn, Robert Schumann, Franz Liszt ou Johannes Brahms, porque para além de um ciclo restrito de admiradores ele não teve grande reconhecimento no seu tempo de vida. Hoje, o seu estilo considerado por muitos como imaginativo, lírico e melódico, fá-lo ser considerado um dos maiores compositores do século XIX, marcando a passagem do estilo clássico para o romântico.

Por vezes incluído também na seleção de compositores pertencentes à Primeira Escola Vienense (Mozart, Haydn, e Beethoven, compositor que ele admirava), ele fez imensas peças líricas, revolucionando o “Lied”, canção lírica em alemão.

Em outubro de 1813, Schubert compôs sua “Primeira Sinfonia em Ré Maior”, dedicada ao diretor da escola em Stadtkonvikt, lugar onde estudou música com Salieri. No final daquele ano deixou o conservatório e, para evitar o serviço militar, começou a dar aulas na escola do pai. Durante dois anos, Schubert dividiu o seu tempo entre a sala de aula e a sua paixão pela música e chegou a compor quase duzentas obras. Escreveu uma dúzia de óperas, que não obtiveram êxito, mas no entanto revelou-se um exímio compositor deste género que aperfeiçoaria: o lied, a canção lírica. Num ano, compôs cerca de 150 lieder, baseados em textos de Shakespeare, Heinrich Heine e Goethe, entre outros autores.

Semelhante à descrição que vimos a ser atribuída a Beethoven há bocadinho, Liszt, amigo e admirador dele que transcreveu para piano várias das suas peças, incluindo o seu famoso Avé Maria (pode aprender mais sobre a história por detrás da peça aqui) descreve Schubert como “le musicien le plus poète qui fut jamais.” – “o músico mais poeta que já existiu”. Em clareza de estilo, é dito que é inferior a Mozart; no poder da construção musical, está bem longe de Beethoven, mas, em termos de impulso e sugestão poética, é dificilmente comparável. Escreveu a sua música sempre de forma precipitada e raramente mudava algo que já estava escrito. Daí que a característica fundamental da sua obra seja um certo sabor a improviso: é por isso que adjectivações como fresco, vivo, espontâneo, impaciente, moderado, rico em matizes sonoras, caloroso, sentimental e imaginativo são frequentemente utilizadas.

Em geral, as suas obras são marcadas pelo paradigma da canção. Até nas suas missas parece que se irrita com as secções contrapontísticas, empregando toda a sua alma nas partes que lhe permitem um tratamento mais lírico. Nas suas sinfonias, as passagens mais celebradas são aquelas que trazem a marca do lirismo e da elegia.

Niccolò Paganini foi também um nome importantíssimo no que diz respeito ao estabelecimento deste estilo. Tão esquecido quanto possa estar Viotti nos nossos dias, assim também é Niccolò Paganini. Sendo um dos primeiros instrumentistas do romantismo musical, Paganini mostrou a pianistas do quilate de Franz Liszt uma nova forma tocar, explorando a técnica e a virtuosidade de um instrumento. Considerado por muitos o melhor violinista de todos os tempos, ele com certeza incentivou certos compositores que personificam o “eu comprei o piano todo, vou usar o piano todo” a fazer peças virtuosas e dificílimas que dificultam a vida a todos os pianistas (sim, Liszt, toda a gente está a olhar para si).

Demonstra-se assim outra faceta do romantismo, as peças imensamente difíceis. Que exemplo melhor será para isto do que La Campanella, de Paganini-Liszt? Pode ver as versões para violino e piano em baixo. Uma coisa é certa – é difícil mas lindíssimo, e todas as notas fazem a diferença.

Chegamos finalmente a Chopin. Como já sabe, este é amplamente conhecido como um dos maiores compositores para piano e um dos pianistas mais importantes da história. A sua técnica refinada e elaboração harmónica são comparadas historicamente às de outros grandes compositores, como Mozart e Beethoven, assim como também é de importância a sua duradoura influência na música até aos dias de hoje.

Chopin considerava a maioria dos seus contemporâneos com alguma indiferença, apesar de ter muitas amizades com aqueles ligados ao romantismo na música, na literatura e nas artes (muitos deles através da sua ligação com George Sand – falamos mais sobre eles os dois num artigo para vir (-;). A música de Chopin é, entretanto, considerada por muitos como um ponto culminante do estilo romântico. A pureza clássica relativa e a discrição na sua música, com pouco exibicionismo extravagante, reflete em parte a sua reverência por Bach e Mozart. Chopin nunca cedeu à explícita “pintura cénica” na sua música ou usou títulos programáticos (o que, sejamos sinceros, é um bocadinho de uma desilusão – poderia ser bastante interessante ver os nomes que Chopin lhes daria), punindo os editores que renomearam as suas peças desta forma – não que servisse de grande coisa.

“A sua apresentação foi sempre nobre e linda; os seus tons cantados, ora num forte ou no mais suave piano. Ele foi tomado de infinitas dores para ensinar aos seus pupilos o seu legato, o seu estilo cantabile de tocar. A sua crítica mais severa era “Ele—ou ela—não sabe como combinar duas notas simultaneamente.” Ele também exigia a precisa aderência ao ritmo. Ele odiava tudo o que fosse vagaroso e demorado, como rubatos fora de lugar, bem como exagerados andamentos… e é precisamente a esse respeito que as pessoas cometem os maiores erros ao tocar suas obras.”, conta-nos Friederike Muller, um de seus alunos.

E agora também outro bom, e o meu compositor favorito de todos os tempos – Franz Liszt. Liszt foi o criador do poema sinfónico, muito popular no século XIX. No campo da música sacra, salientam-se as 4 oratórias: S. Isabel, S. Stanislaus (incompleta), Christus, e a vanguardista Via Crucis. Escreveu duas sinfonias, a Sinfonia Dante, inspirada na Divina Comédia de Dante Alighieri, e a Sinfonia Fausto, composta por diferentes quadros que caracterizam as personagens de Fausto, do escritor romântico alemão Goethe. As suas principais obras são: 19 Rapsódias Húngaras para Piano, (posteriormente orquestradas), 12 Estudos Transcendentais, Sonata em Si menor, Sinfonia Fausto, Sinfonia Dante, Concerto para Piano No. 1, Concerto para Piano No. 2, Valsa Mephisto No. 1, Liebesträume No. 3, Poemas Sinfónicos e La Campanella.

Liszt, com mãos imensamente grandes que lhe permitiram tocar como ninguém, era considerado por alguns o maior pianista de todos os tempos. No entanto, passou um período mais em baixo devido ao facto de não conseguir atingir a mesma virtuosidade das peças que tocava nas suas próprias composições. E, assim, fez no piano o que Paganini fez no violino, e estes chegaram a trabalhar juntos nalgumas peças, acusados até de vender a alma ao diabo para adquirir a sua virtuosidade. Um exemplo é a La Campanella, italiano para “A Campainha” de que já falámos.

Lisztomania ou febre de Liszt foi o intenso frenesim motivado pelo compositor durante as suas apresentações. A primeira vez em que se registou ocorreu em Berlim em 1841, tendo o termo sido criado mais tarde por Heinrich Heine num folhetim escrito por ele no 25 de abril de 1844, ao discutir a temporada de concertos daquele ano em Paris. Lisztomania foi caracterizada por níveis elevados de histeria de fãs, comparável ao tratamento dado às celebridades da música na atualidade – mas num tempo não conhecido por tal agitação musical – o que faz Liszt ser considerado a primeira superstar.

Mais tarde, em 1860, Bhrams comete um grande erro: assina, junto com Joseph Joachim e outros dois músicos, um manifesto contra a chamada escola neo-alemã, de Liszt e Wagner, e a sua “música do futuro”. Embora Brahms não fosse muito dado a polêmicas, acabou por entrar nessa, o que lhe valeu o não necessariamente bom apelido de reacionário, que foi derrubado apenas no século XX pelo famoso ensaio de Schoenberg – “Brahms, o Progressista”.

Brahms dedicou-se a todas as formas de música, exceto balé e ópera, que não lhe interessavam – o seu domínio era realmente a música pura, onde reinou absolutamente no seu tempo. Podemos dizer que Brahms ocupou o espaço deixado por Wagner, que se dedicava à ópera, e com ele dominou a música da segunda metade do século XIX.

A obra brahmsiniana representa a fusão da expressividade romântica com a preocupação formal clássica. Numa época onde a vanguarda estava com a música programática de Liszt e o cromatismo wagneriano, Brahms compôs música pura e diatônica, e ainda assim conseguiu impor-se, e talvez este seja um dos seus maiores méritos. Em contrapartida, um fator que faz com que Brahms seja de certa forma inovador, é o seu estilo de modulação, sendo que, muitas vezes, Brahms usa modulações repentinas dentro do discurso harmónico das suas obras, sempre usando caminhos de intervalos de terceira.

Relacionado com o que Bhrams assinou: A Guerra dos Românticos é um termo usado pelos historiadores para descrever o cisma na estética musical que ocorreu entre as fações em que se dividiam os músicos de destaque na segunda metade do século XIX. A estrutura musical, os limites da harmonia cromática, e a música programática versus a música absoluta foram as principais áreas da contenda. Os opositores ao romantismo cristalizaram musicalmente durante a década de 1850. O círculo conservador, com sede em Berlim e Leipzig, era centrado em torno de Johannes Brahms e Clara Schumann, e no Conservatório de Leipzig, que tinha sido fundado por Felix Mendelssohn. Os seus oponentes eram progressistas radicais de Weimar, representados por Franz Liszt e pelos membros da chamada Nova Escola Alemã, e por Richard Wagner. A controvérsia era alemã e centro-europeia de origem; músicos da França, Itália e Rússia foram apenas marginalmente envolvidos. Compositores de ambos os lados viam Beethoven como o seu herói espiritual e artístico. Os conservadores, vendo-o como um pico insuperável, os progressistas como um novo começo na música.

Mais tarde, por volta de 1850, começa a época tardo-romântica com Pyotr Illich Tchaikovsky e ao longo do tempo passa a contar com nomes como Dvorak, Grieg, Rimsky-Korsakov, Puccini, Mahler, Albéniz, Sibelius, Scriabin e Rachmaninoff, entre tantos outros.

E acaba por aqui a tentativa do Pianissimo de explicar a origem de certamente um dos mais influentes períodos na história da música erudita, que ainda hoje nos traz música pura e simplesmente magnífica aos nossos ouvidos!

Para fechar só mesmo uma frase de Liszt:

“A música é o coração da vida. Ela fala sobre o amor, sem ela, não há bem possível e com ela tudo é lindo.”

Em baixo ficam também 2 peças desta época, com interpretação Pianissimo, e também o Prelúdio de Bach tocado de duas maneiras diferentes.

Comparação entre 1 peça tocada de maneiras diferentes:

Préludio em dó Maior de Bach – versão original vs. Avé Maria de Gounod

Consolação nº 3 de Liszt e Valsa em Lá Menor b. 150 (obra póstuma) de Chopin

Nota: as imagens de Beethoven, Liszt, Chopin e Mozart usadas na capa são designs 3D da autoria do artista Hadi Karimi. Pode encontrar os seus trabalhos expostos no seu site, hadikarimi.com , e pode ser também encontrado no Facebook, Instagram, Twitter, ArtStation, YouTube, Behance, LinkedIn e Pinterest.

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marcos aquino
marcos aquino
8 de Janeiro, 2022 17:07

Ótimo artigosobre essa transição complexa. Alguns aspectos musicais foram importantes para essa mudança: a plasticidade do desenvolvimento temático com a “forma sonata”; o aperfeicoamento dos efeitos de textura, especialmente com interações ritmicas e harmônicas; o sinfonismo que ousa com essas possibilidades de efeitos, a utilização de associações entre temas e personas, ou entre música e literatura, o drama e as paixões podiam ser técnicamente expressados por essa nova estética musical.

Mariana
Mariana
Resposta a  marcos aquino
11 de Janeiro, 2022 22:39

Olá!!
Muito obrigada pelo comentário ❤
Por todas essas razões e tantas outras este é dos artigos que mais me orgulha ter no Pianíssimo. Devido a toda a expressividade envolvida neste novo estilo Romântico, que acaba por ser o meu favorito, sempre me perguntei como poderia ter sido, realmente, uma transição tão complexa… e a verdade é que, na minha opinião, não há uma resposta muito sucinta para isso!!
Vários compositores contribuíram com um pouco, outros com mais influência, outros adicionando detalhes. Por acaso até fiz um artigo sobre peças de música inspiradas em obras literárias, e reparei que podemos verificar que esta contribuição para o estilo Romântico foi influenciada, por exemplo, por Schubert. No entanto, podem verificar-se exemplos disto depois, na época Tardo-Romântica, como em Rachmaninoff.
É interessante como todas estas pequenas peças criaram uma estética tão bela.
Fico feliz que tenha gostado!!

Mariana

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