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The Planets, op. 32, integralmente The Planets: Suite for Large Orchestra, com o nome original sendo Seven Pieces for Large Orchestra, é uma suite orquestral composta por sete poemas de tom curto do compositor inglês Gustav Holst.

A sua primeira apresentação pública aconteceu em 1920 e foi um sucesso instantâneo. Dos vários movimentos, “Mars, The Bringer of War” e “Jupiter, The Bringer of Jollity” são os mais ouvidos.

Holst escreveu a sua coleção de retratos planetários desde 1914 a 1916, enquanto era diretor de música na St. Paul’s Girls ’School. A sua inspiração veio da astrologia e horóscopos, e não da astronomia e mitologia.

Nas palavras do compositor, “Estas peças foram sugeridas pelo significado astrológico dos planetas. Não há música programática neles, nem têm qualquer conexão com as divindades da mitologia clássica que levam os mesmos nomes. Se for necessário algum guia para a música, o subtítulo de cada peça será considerado suficiente, especialmente se for usado num sentido amplo. Por exemplo, Júpiter traz alegria no sentido comum, e também o tipo mais cerimonial de júbilo associado a religiões ou festividades nacionais. Saturno traz não apenas decadência física, mas também uma visão de realização. Mercúrio é o símbolo da mente.”

Gustav Holst conta-se entre os compositores britânicos que maior projeção internacional conseguiram alcançar. A sua personalidade inquiridora levou-o a encontrar estímulos criativos determinantes na nova música do seu tempo, tomando como referência em particular os estilos de Maurice Ravel e Igor Stravinsky, mas também o romantismo de Edvard Grieg e de Richard Strauss, numa abordagem cosmopolita e não habitual na música inglesa deste período, o que o levaria a desenvolver um estilo bastante original e que, em vários aspetos, antecipava tendências que seriam protagonizadas por compositores britânicos posteriores, influenciando com esta obra os mais conhecidos compositores atuais, como John Williams e Hans Zimmer devido às texturas alusivas a efeitos especiais e caracterização de tema.

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Maurice Ravel
Igor Stravinsky
Edvard Grieg
Richard Strauss

A suite orquestral The Planets, op. 32, que certamente é uma das mais notáveis da história da música, foi composta entre 1914 e 1916.

A sua receção foi positiva desde o início, obtendo rapidamente um nível de popularidade que nunca mais perderia. Trata-se de uma obra sofisticada, em que estão bem patentes os modelos cosmopolitas absorvidos pelo compositor, sendo constituída por sete andamentos de uma extrema riqueza em termos melódicos, rítmicos e harmónicos. Ao nível da orquestração, os diferentes andamentos evocam, de modo intensamente colorido, as personalidades das divindades da mitologia clássica associadas a cada um dos planetas do Sistema Solar então conhecidos (excetuando a Terra).

A suite inicia-se com Mars, The Bringer of War, um andamento marcadamente viril e poderoso que, com as suas figuras rítmicas impetuosas e brutais, constitui uma marcha inexorável e ameaçadora, sugestiva das implicações mais devastadoras da guerra.
Produzindo um contraste acentuado, surge Venus, The Bringer of Peace, introduzido por um motivo ascendente na trompa que anuncia os serenos acordes das madeiras. Aqui, a atmosfera de paz é produzida por uma instrumentação diferente, que privilegia as sonoridades celestiais e cintilantes de harpa, madeiras, violino e violoncelo solo, para além da própria celesta.
Segue-se Mercury, The Winged Messenger, cuja ligeireza é sugerida desde logo pelas rápidas escalas construídas em dois ritmos diferentes sobre duas tonalidades paralelas, que passam rápidas e elusivas por vários instrumentos da orquestra.
Mais uma vez, há lugar a um contraste acentuado, desta feita com o surgimento de Jupiter, The Bringer of Jollity, um momento pleno de bom humor, pretendendo evocar a conotação dessa divindade com a benevolência e a generosidade. Começando agitadamente, quase como uma abertura para as frases mais melodiosas do meio desta parte suíte, este é, sem dúvida, o andamento que maior popularidade alcançou, talvez pelo facto de, na sua secção intermédia, citar uma cativante melodia tradicional inglesa em estilo de carol, uma passagem que posteriormente seria adaptada em múltiplos contextos.
Em Saturn, The Bringer of Old Age – aparentemente o favorito do compositor – é retratado o estado de sabedoria e harmonia, mas também de certeza na própria finitude, característico da etapa final da jornada da vida, numa atmosfera sombria gerada sobretudo por uma ideia rítmica omnipresente evocativa do toque de um sino, a qual após atingir um ponto culminante terrífico encerra com placitude.
Por sua vez, Uranus, The Magician, introduz uma nota um pouco mais humorística do que o movimento anterior, atribuindo a esta divindade um caráter insolente e imprevisível através da evocação das partidas que engendra e da satisfação com a sua habilidade. A personalidade irrequieta e humorística deste planeta é caracterizada pelas intervenções irrequietas do fagote em staccato, isto para além de um motivo de quatro notas, representando o gesto de um feitiço, que surge em diversas permutações. Após uma secção central mais lúgubre, o andamento encerra recuperando a atmosfera inicial.
Por fim, em Neptune, The Mystic, para transmitir o caráter místico que associa a essa divindade, o compositor recorre, com todos os instrumentos em pianissimo, a um conjunto de figuras enigmáticas que se sucedem, como se da intersecção de raios luminosos de tratasse, bem como a uma sucessão de acordes misteriosos que evocam a ideia de intemporalidade e de infinidade do espaço. Neste sentido, contribui particularmente a suave entrada de um coro feminino, que se mantém quase impercetível até se desvanecer em dois acordes pairantes que fazem com que a música se dissipe serenamente no silêncio.

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Mars, The Bringer of War
Venus, The Bringer of Peace
Mercury, The Winged Messenger
Jupiter, The Bringer of Jollity
Saturn, The Bringer of Old Age
Uranus, The Magician
Neptune, The Mystic
Mars, The Bringer of War

A suite inicia-se com Mars, The Bringer of War, um andamento marcadamente viril e poderoso que, com as suas figuras rítmicas impetuosas e brutais, constitui uma marcha inexorável e ameaçadora, sugestiva das implicações mais devastadoras da guerra.

Venus, The Bringer of Peace

Produzindo um contraste acentuado, surge Venus, The Bringer of Peace, introduzido por um motivo ascendente na trompa que anuncia os serenos acordes das madeiras. Aqui, a atmosfera de paz é produzida por uma instrumentação diferente, que privilegia as sonoridades celestiais e cintilantes de harpa, madeiras, violino e violoncelo solo, para além da própria celesta.

Mercury, The Winged Messenger

Segue-se Mercury, The Winged Messenger, cuja ligeireza é sugerida desde logo pelas rápidas escalas construídas em dois ritmos diferentes sobre duas tonalidades paralelas, que passam rápidas e elusivas por vários instrumentos da orquestra.

Jupiter, The Bringer of Jollity

Mais uma vez, há lugar a um contraste acentuado, desta feita com o surgimento de Jupiter, The Bringer of Jollity, um momento pleno de bom humor, pretendendo evocar a conotação dessa divindade com a benevolência e a generosidade. Começando agitadamente, quase como uma abertura para as frases mais melodiosas do meio desta parte suíte, este é, sem dúvida, o andamento que maior popularidade alcançou, talvez pelo facto de, na sua secção intermédia, citar uma cativante melodia tradicional inglesa em estilo de carol, uma passagem que posteriormente seria adaptada em múltiplos contextos.

Saturn, The Bringer of Old Age

Em Saturn, The Bringer of Old Age – aparentemente o favorito do compositor – é retratado o estado de sabedoria e harmonia, mas também de certeza na própria finitude, característico da etapa final da jornada da vida, numa atmosfera sombria gerada sobretudo por uma ideia rítmica omnipresente evocativa do toque de um sino, a qual após atingir um ponto culminante terrífico encerra com placitude.

Uranus, The Magician

Por sua vez, Uranus, The Magician, introduz uma nota um pouco mais humorística do que o movimento anterior, atribuindo a esta divindade um caráter insolente e imprevisível através da evocação das partidas que engendra e da satisfação com a sua habilidade. A personalidade irrequieta e humorística deste planeta é caracterizada pelas intervenções irrequietas do fagote em staccato, isto para além de um motivo de quatro notas, representando o gesto de um feitiço, que surge em diversas permutações. Após uma secção central mais lúgubre, o andamento encerra recuperando a atmosfera inicial.

Neptune, The Mystic

Por fim, em Neptune, The Mystic, para transmitir o caráter místico que associa a essa divindade, o compositor recorre, com todos os instrumentos em pianissimo, a um conjunto de figuras enigmáticas que se sucedem, como se da intersecção de raios luminosos de tratasse, bem como a uma sucessão de acordes misteriosos que evocam a ideia de intemporalidade e de infinidade do espaço. Neste sentido, contribui particularmente a suave entrada de um coro feminino, que se mantém quase impercetível até se desvanecer em dois acordes pairantes que fazem com que a música se dissipe serenamente no silêncio.

Foi em 1913 que Gustav Holst visitou Maiorca. Enquanto estava lá, ele familiarizou-se com a astrologia, que se tornou um interesse para toda a sua vida. Ele escreveu a um amigo:

“Via de regra, eu só estudo coisas que me sugerem música… recentemente familiarizei-me com a astrologia e o caráter de cada planeta sugeria registos para mim, e tenho estudado astrologia bastante de perto.”

Imogen Holst, filha do compositor, afirmou que “O que é um horóscopo” de Alan Leo era um dos livros favoritos do seu pai. No livro, Leo descreveu os planetas, dando a cada um uma pequena descrição e expandindo o significado astrológico de cada um.

Imogen Holst
Alan Leo

The Planets reflete a caracterização de Holst dos planetas, com exceção da Terra e de Plutão (que ainda não tinha sido descoberto).

Central para o pensamento astrológico é o poder de adivinhação, previsão e determinação fatídica por meio do caráter e localização dos planetas, seguindo o lema “como acima, é abaixo”. Hoje muitos lhe chamam pseudociência por causa da sua base não muito científica, colocando muito mais confiança na ciência da astronomia, que se desenvolveu a partir de investigações astrológicas.

Stephen Hawking, físico teórico britânico, cosmólogo, professor de matemática na Universidade de Cambridge e um dos cientistas mais importantes do século, afirmou que “A maioria dos cientistas não acredita em astrologia porque ela não é consistente com as nossas teorias que foram testadas por experiências.” No entanto, o fascínio da astrologia continuou, apesar de tal desmentido, e continua a atrair-nos para o seu sistema e mistério. Holst gostava muito de astrologia e, em festas particulares, gostava de dar “leituras astrológicas” e fazer horóscopos para os seus amigos.

Stephen Hawking

O compositor está num vasto grupo de filósofos, músicos, cientistas e artistas que refletiram sobre os mistérios do cosmos e a relação do homem com ele.

A composição foi influenciada por uma série de apresentações de compositores eminentes na Inglaterra. Entre eles estavam Schoenberg e Stravinsky. A impressão sobre o trabalho de Holst é evidente quando ele inicialmente nomeou a suíte como Sete Peças Orquestrais, título que foi baseado provavelmente na obra “Cinco Peças Orquestrais Op. 18” de Schoenberg. Da mesma forma, é notável que o desempenho orquestral misterioso de Stravinsky influenciou Marte, o movimento inicial dos Planetas.

Arnold Schoenberg

A estreia de The Planets, conduzida a pedido de Holst por Adrian Boult, foi realizada a curto prazo em 29 de setembro de 1918, durante as últimas semanas da Primeira Guerra Mundial, no Queen’s Hall com o apoio financeiro de Gardiner. Foi ensaiado à pressa; os músicos da Queen’s Hall Orchestra viram a música complicada pela primeira vez apenas duas horas antes da apresentação, e o coro para Neptune foi recrutado entre os alunos de Holst no Morley College e na St Paul’s Girls ‘School.

Foi um evento relativamente íntimo, com a presença de cerca de 250 associados convidados, mas Holst considerou-o como a estreia pública, escrevendo na cópia de Boult da partitura: “Esta cópia é propriedade de Adrian Boult, que fez The Planets brilharem em público e, assim, ganhou a gratidão de Gustav Holst. “

“Pouco antes do armistício, Gustav Holst irrompeu no meu escritório: “Adrian, o YMCA vai enviar-me para Salonika em breve e Balfour Gardiner, abençoado seja, deu-me um presente de despedida que consiste no Queen’s Hall, cheio da Queen’s Hall Orchestra durante toda a manhã de domingo. Então, vamos fazer The Planets, e tens que ser o maestro.” Conta-nos Adrian Boult.

Adrian Boult

Desde aí, já Hans Zimmer foi processado pela Holst Foundation por causa da semelhança da banda sonora de Gladiator com Mars, The Bringer of War e John Williams é conhecido pelo material bastante semelhante em Star Wars, mas o que é certo é que é uma das referências mais importantes na banda sonora atual.


Alguns sites que falam sobre esta obra que valem a pena ver:

https://youtu.be/Isic2Z2e2xs

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Maria Teresa Costa
Maria Teresa Costa
9 de Setembro, 2021 18:03

Peças eruditas, sofisticadas, mas de muita melodia. É difícil para quem pouco entende de música poder fazer um comentário .Só sei que nada sei …Mas adorei ,como sempre, a música que nos disponibilizas através do Pianíssimo.Parabéns Mariana.

Manuel Costa
Manuel Costa
9 de Setembro, 2021 18:17

Fabuloso trabalho, muito documentado e conciso, sobre uma obra mítica da música épica mundial. Não deixa de ser curioso que esta obra represente nada mais nada menos que a fonte de inspiração para os grandes compositores e as famosas bandas sonoras incluídas nos maiores filmes do nosso tempo.
Escusado será dizer que adoro este tipo de música, principalmente a sua genese cósmica e celestial.
Grande trabalho Mariana. Estás de parabéns.
ADOREI…:-))))))

Maria Manuel Costa
Maria Manuel Costa
12 de Setembro, 2021 20:42

Efetivamente ao ouvir “The Planets” percebe-se distintamente que as bandas sonoras da filmografia do séc. XX vieram nele beber inspiração…
Que grande percursor foi Holst!
Uma vez mais, grata pelos posts sempre surpreendentes. <3

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